29.9.03

Ontem fizemos uma festa aqui na minha casa. Quando eu digo minha casa eu me refiro à casa do meu pai, onde moram os gibis e os discos e eu durmo umas duas ou três vezes por semana. É uma casa grande, com piscina e churrasqueira, que foi comprada pra acomodar uma família de cinco pessoas e vários animais, portanto, ideal para festas.

A tertúlia em si partiu de dois motivos. Motivo um, o aniversário do Gerardo, que prometeu (e cumpriu) estar aqui para a comemoração. Motivo dois, a despedida de Leo e William, que amanhã vão para o Reino Unido cuidar de suas vidas e dar uma instigada bacana na carreira de produtores de música eletrônica. Alugamos um som profissa, organizamos três shows (do Vamoz, da Parafusa e do Badminton) e convidamos os amigos. Júlia também veio, o que pra mim e todos os presentes foi uma dádiva, e a festa teve o número certo de participantes, nem demais nem de menos.

Apesar de trabalhar muito, eu gostei demais da festa também. O show do Vamoz foi muito bom, e eu acho que Gomão está feliz pra caralho com a banda nova dele. E por conseguinte, estamos todos também, porque está bem claro que ele está fazendo o que gosta. O outro guitarrista da banda, o Henrique, também está foda. O cara parece tocar melhor a cada dia.

Wadner também veio, e Lhô, e ficamos ouvindo um disco que Wal organizou com os originais das covers que tocávamos na época do Dreadful Boys. Nostalgia é bóia.

O segundo show foi da Parafusa, que fez uma apresentação impecável. Os caras estão tocando demais tb, e é um daqueles shows onde você vê um entrosamento na banda que é raro encontrar por aí. O show deles eu não pude ver tão bem pois dei banho, fiz o jantar de Júlia e também tive que cuidar de outras coisas de ordem prática na festa. Júlia também gostou muito de ficar sentada na moto de Homero, então nós passamos muito tempo brincando de subir e descer da moto.

Entre a parafusa e o Badminton, Ju e Syl voltaram pra casa. O show do Badminton não pode ser propriamente chamado de show, foi mais um combinado de músicas que nós já tocamos no passado, ou uma jam session de luxo. Porque só tinha um ampli de guitarra disponível na hora, André ficou de fora. Charles não veio, então sobrou mesmo pra Gerardo a responsabilidade de assumir o posto de onde nunca deveria ter saído, e Leo estava afim de tocar, então pela primeira vez tivemos um tecladista de verdade. Acho que essa formação, mais André na segunda guitarra, é o dream-team pra mim em relação ao Badminton. Nunca vai rolar, mas dá bastante corda pra você pensar como seria a banda num mundo paralelo.

Passamos pelas covers habituais, e terminanos com Hoochie Coochie Man, que Igor veio cantar, atendendo a pedidos do meu pai. Aí foi a desculpa necessária pra Gomão pegar a guitarra e fazermos uma reunião de última hora do Supersoniques.

Essa foi a primeira vez em dois anos que nós quatro estivemos no mesmo lugar ao mesmo tempo, e tocamos juntos. Na última vez antes dessa, eu estava puto da vida, e apesar de já saber que aquela seria o último show do Supersoniques como banda existente, não consegui relaxar e gozar. Me arrependo muito disso, e de ter discutido com Syl por causa disso também. É uma daquelas coisas que eu gostaria de mudar se nos fosse permitido voltar no tempo. Desculpa.

Obviamente, o show não foi lá essas coisas, digamos assim, musicalmente. As músicas do Supersoniques tinham muitas passagens e detalhes que a gente esqueceu depois de dois anos. E lembrar das harmonias todas em cima da hora pra passar pra Leo foi meio difícil também. Mas mesmo assim, o momento foi emocionante.

Tocar com uma banda que acabou é, pra usar uma analogia que a maioria das pessoas vai entender, como fazer amor com alguém que você não vê há muito tempo, mas que já foi uma das coisas mais importantes da sua vida de outrora. É um transporte instantâneo pra outra época, ou pra outra vida, como se você estivesse vivendo na pele de outra pessoa por alguns minutos. Você recorda e reconhece detalhes mínimos, os quais você achava que já tinha esquecido. Você instantaneamente lembra de momentos específicos e coisas que aconteceram há muito tempo, e pensa em como foi possível que aquilo tudo tenha acabado, ou como você gostaria que as coisas voltassem a ser como já foram. Mas quando tudo acaba, você sente que agora a vida é outra, e que aquilo não faz parte de vocês hoje em dia. O que não estraga de forma alguma o momento, só lembra a todos que o tempo realmente passa, e que nada acaba ou começa por acaso.

Mas foi bom e todo mundo que viu, curtiu. Vinnie Boy ficou gritando que a banda tinha que voltar, e com o provável retorno de Gerardo e Micheline pro Recife, acho que essa é uma pergunta que todos vão nos fazer algumas vezes. A gente vai tocar mais uma última vez, pra lançar o disco que gravamos, também, há dois anos, e pra esse show é bem capaz de nos ensaiarmos e tudo mais. Mas acho que, pra nós quatro, o Supersoniques foi o que foi, e não é mais.

A festa terminou não muito tarde, depois que nós combinamos todos os sacos de salgadinho que tinham permanecido intocados até o momento em um grande misto de sabores artificiais diferentes. Eu fui com Gomão e André até um posto comprar alguns refris e cervejas pra o pessoal encarar tantos salgados, e ficamos contando histórias na beira da piscina até todo mundo ir embora. E foi isso aí.

Nenhum comentário: