22.6.03

Em pouco tempo de vida, eis que a minha humilde coluna online ja ganhou o titulo de menos atualizada da paroquia. Tambem pudera, mas mesmo assim eu acredito que um dia eu consigo.

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Eu estive em Sao Paulo recentemente, participando de um evento reunindo uma feira de produtos de audio profissional e um congresso da secao brasileira da AES - em ingles, Sociedade de Engenharia em Audio - que contou com a participacao de profissionais de diversas areas, alem de uma representacao notavel das principais empresas do setor. Apesar de nao ser engenheiro e trabalhar como profissional de audio ha relativamente pouco tempo - em comparacao por exemplo ao tempo que eu ja trabalho como musico e professor - eu consegui me sentir a vontade o bastante para nao me furtar de fazer perguntas durante as palestras e tambem buscar maiores esclarecimentos sobre as minhas principais duvidas fora delas. Quem mora em Recife sabe que oportunidades assim nao acontecem todo dia.

As discussoes durante o congresso em si confirmam um sentimento de incerteza que eu ja venho percebendo em outras conversas e tambem ao ler revistas sobre o assunto. Incerteza em relacao ao que vai acontecer com o mercado de entretenimento de uma forma geral e como isso vai afetar o nosso trabalho no dia-a-dia. Por exemplo, a era do CD esta definitivamente acabando, mas ao mesmo tempo nenhum outro formato se consolidou como seu substituto oficial. E o palpite mais provavel e que nao havera um substituto, mas sim uma pulverizacao do formato em diversas possibilidades diferentes, incluindo-se ai o MP3. Em termos praticos isso quer dizer, por exemplo, que nao é improvavel que tenhamos que finalizar um mesmo trabalho - digamos um disco ou uma faixa - de diversas maneiras para acomodar formatos diferentes, do Vinil ao DVD-Audio, se quisermos evitar que alguma outra pessoa o faça malfeito.

Nao que isso seja um grande problema, pelo contrario, e ate bom que se possa trabalhar de forma comercialmente viavel com diversos formatos. Isso barateia o custo de uma producao de um disco em pelo menos tres mil reais, que e o preço medio de uma prensagem de mil copias. O problema vai ser inventar um jeito de ganhar dinheiro com musica pela internet que de pra pagar estudio, produtor, aluguel da casa, escola dos meninos, comprar corda, comida, desinfetante, etc.. Por outro lado, pode ser que essa tendencia tenha como consequencia uma enfase maior na musica ao vivo, uma vez que baixar discos da internet vai se tornar uma coisa mais corriqueira ainda. Mas provavelmente isso sou so eu querendo nao pensar que um dia o bicho vai pegar de verdade.

Uma outra tendencia e a fragmentacao cada vez maior de equipamentos grandes - como por exemplo um computador como os que temos hoje em dia - em modulos menores que podem ser combinados de varias formas e ligados a estruturas ligeiramente maiores. Discos rigidos portateis, por exemplo, estao cada vez mais baratos, de forma que gravar um mesmo disco em estudios diferentes nao e mais uma novela tao grande - tendo em mente que gravar um disco e inevitavelmente uma novela. Isso de certa forma permite que fulaninho faca um determinado trabalho em casa mesmo, mas possa dar uma finalizacao bacana em um estudio legal sem precisar mover mundos e fundos pra isso, muito menos andar por ai com uma pilha de 50 CD's gravaveis contendo todo o material.

Isso tambem traz de volta aquela conversa de termos varios computadores em casa, tipo um computador-geladeira e um computador-televisao, entre outros. O que tambem quer dizer que o computador-computador como o conhecemos hoje deve passar por uma plastica geral e adquirir uma nova cara muito em breve. Tomara que todos eles ja venham livres do Windows.

Uma terceira tendencia tambem deu as suas caras, subrepticiamente, nas palestras e demonstracoes do congresso-feira. Essa inclusive rendeu uma conversa recente com um amigo meu, e e a mais assustadora de todas. Trata-se da nova onda de anglicismos desnecessarios. Depois do gerundismo - "o senhor vai estar efetuando o pagamento em cartao ou cheque?" - e de belos acrescimos a lingua, como o verbo "startar", usado como "iniciar" ou "começar", a moda agora é a traduçao literal. A? o cara deixa de perceber as coisas e começa a "realizar" - "Ah, eu finalmente realizei que berimbau nao e gaita". Lindo, nao? Preste atencao nas conversas que voce vai ter nos proximos dias. Provavelmente alguem vai ter realizado alguma coisa sem ter feito porra nenhuma.

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Falar de mal de anglicismos e escrever sem acento e meio idiota mesmo, mas eu estou tentando dar um jeito nisso. Acho que esse novo Blogger experimental e meio burro, eu vou tentar migrar pra um blogger tradicional onde eu possa escrever todos os acentos. Mudando de assunto creio que seja uma proposta realista essa coluna passar a ser quinzenal. Ate.