7.1.04

Futebol

Ontem eu estava pensando sobre a minha relação com o futebol. Eu acho que se todo mundo fizesse, em algum momento da vida, duas listas, uma com as coisas para as quais você nasceu, outra com aquelas em que nessa encarnação não vai dar, o futebol entraria, no meu caso, na segunda. Futebol realmente não é um dos meus talentos, em qualquer lugar que eu esteja em relação ao campo.

Não se trata, entretanto, de uma hojeriza ao esporte bretão - o que me faz lembrar que o tênis, o cricket e o badminton, por exemplo, também são esportes bretões. Eu gosto, de verdade, de futebol. Sou torcedor do Flamengo desde que eu me entendo por gente, e até antes disso, quando os membros interessados da sua família cuidam para que você não vá torcer pro Vasco ou pro Fluminense. Torço também pelo glorioso Leão da Ilha. Eu comemoro as vitórias destes dois times, e também do escrete nacional nas contendas pelo mundo, e a minha comemoração e emoção são genuínas.

Mas eu não entendo porra nenhuma de futebol. Primeiro que eu nunca consegui jogar. É bem verdade que eu nunca consegui jogar absolutamente nada que não fosse Atari e Sinuca. Até dominó eu jogo mal. Mas em um país onde as pessoas nascem com a bola no pé, você descobre que não nasceu pra coisa cedo. É uma daquelas coisas que as pessoas geralmente só precisam lidar na adolescência, acordar pra realidade que existem coisas que você não pode fazer. Comigo foi cedo, aos quatro, cinco anos. E o detalhe irônico é que meu avô jogava bola pra cacete, e eu sou o neto mais velho. Todos os netos dele ganharam uma bola de futebol e um uniforme do Flamengo no primeiro ano de vida. Quase todos os outros sabem o que fazer com o primeiro item.

Segundo é que, apesar de gostar de assistir a uma boa partida, eu não entendo de futebol. A única coisa que me diferencia da mulher média que assiste a um joguinho ocasional é que a minha atenção não está voltada para as coxas dos jogadores, e que eu realmente sei o que é impedimento. Eu até consigo explicar. Mas de resto eu não entendo merda nenhuma. Eu sempre achei que o Zico fosse centroavante, até outro dia. O máximo que eu chego ao enumerar a escalação de um dado time, como o Flamengo campeão do mundo, são quatro ou cinco jogadores.

Pra mim, pessoalmente, isso foi compensado de outras formas. Eu entendo bastante de várias outras coisas, pra mim é fácil manter uma conversação interessante por horas, intercalando assuntos diversos, desde que não se fale de futebol. Sobre o futebol eu não consigo nem teorizar. A sorte é que os meus amigos - todos entendedores da bola dentro e fora do campo - sabem disso, e quando o assunto é inevitável numa ou noutra mesa por aí, eu simplesmente assisto, mas já desisti de tentar aprender alguma coisa. Principalmente porque eu sempre acabo esquecendo.

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