26.4.04

Não tá careta não

Só confirmando a minha teoria que relaciona os problemas aos mórmons. Sendo que dessa vez parece que eu estou passando na frente de uma igreja de Jesus Cristo e Santos dos Últimos dias no domingo de manhã, porque tem mórmons saindo, aos pares, trios e quartetos de tudo quanto é canto. Acho que está mesmo na hora de pedir ajuda.

23.4.04

O Teenage Fanclub e eu.

Eu gosto muito mesmo do Teenage Fanclub. Tanto que vou tentar ver o máximo de shows possível. Mas arrumei pra mim mesmo uma certa bronquinha pra resolver, que são as exigências de som da banda. Pra se ter uma idéia, em Recife, eu nunca ouvi falar de ninguém que tivesse um amplificador Fender Twin Reverb. Só desse, eles pedem três. Mais dois AC30. O único AC30 que eu vi ao vivo na cidade foi o de Tony Balinha, e mesmo assim está com problema. Vamos tentar consertar, mas não se sabe se vai dar tempo, e se vai ficar bila mesmo, porque se a bronca, por exemplo, for nos falantes, fudeu mesmo.

O teclado, pelo menos isso já resolveu. O cara vai trazer de SP. Mas imagino que não vai ter condições do cara trazer os outro cinco amplis. E a bateria? Tem que ser Gretsch, Slingerland ou Ludwig. Quem já pensou, adivinhou que eu não tenho nem idéia de quem tenha uma. Aliás tenho, mas parece que o cara aluga a mãe, mas não aluga a Gretsch dele.

Se daqui pro meio da semana eu não conseguir descolar essas paradas, vou ter que apelar mesmo, e ver se os caras topam tocar com Marshall e uma bateria Premier.

21.4.04

Eu já estou fodido, então foda-se.

Essa foi a frase do dia no estúdio. Uma daquelas que as pessoas ficam usando a cada oportunidade que aparece. Me pareceu um título apropriado, já que eu vou escrever sobre um assunto completamente diferente.

Uma vez o Salsicha tava falando que ele era apaixonado pela Rita Lee, mas não essa de hoje, a de quarenta, trinta e oito anos atrás. O que ele dizia era que era foda você pensar que aquela pessoa tão linda e maravilhosa não só não existe mais, como se tornou o que se tornou.

Eu estava pensando isso sobre a Emmylou Harris. Na década de 70, simplesmente não tem nada mais bonito que ela. Tá, que pode até ser que você tenha lá a sua musa dos anos 70, mas por mais bonita que ela possa ser, ela não deve ter metade da voz, nem sabe tocar violão. Na capa do "Elite Hotel" então, é o sucesso dos sucessos.

Mas o tempo, esse menino danado, me colocou bem depois na fila. Então, naquela época, eu era uma criança bonita e fofinha e falante, logo o máximo que a Emmylou podia fazer por mim era me adotar. Se bem que, não desfazendo dos dotes vocais da minha mãe e das minhas avós, um "Nana Neném" ou um "Sapo Cururu" dela não iam nada mal.

A diferença desse exemplo pro exemplo do Salsicha é que, ao contrário da nossa titia, a Emmylou envelheceu na moral. Não fez discos ruins, e é uma coroa que impressiona. Tudo bem, eu admito que tenha uma plástica aqui e ali, mas são 57 anos, recém completos e muito bem vividos. Afinal de contas, quantas cinquentonas você conhece que tem a moral de ter o Neil Young fazendo segunda voz?

20.4.04

Quer moleza? Vai no Balaio.

Hoje em dia, entretanto, é difícil encontrar um Balaio, supermercado, de bobeira por aí, de forma que resta-nos apenas a opção de sentar no pudim. Eu sempre me indaguei porque alguém sentaria num pudim, podendo comê-lo, eu mesmo adoro pudim de leite, e preferiria muito mais comer um inteiro do que desperdiçar uma iguaria dessas com a minha bunda mole. É verdade que, bunda mole que sou, eu poderia simplesmente sentar-me, pois tendo a bunda mole, seria moleza de um jeito ou de outro.

Mas nem só de bunda vivo eu. Aliás, se eu fosse viver de bunda, passaria fome, e por conseguinte acabaria mais sem bunda do que já sou por natureza. Pelo contrário, bunda comigo, só as alheias, e femininas. Aprecio demasiado, posso dizer. Fazer o quê, afinal de contas sou brasileiro, e tenho que respeitar a preferência nacional. Fosse eu americano, estaria à mercê do silicone de outrem. Pior ainda se fosse inglês, cujas mulheres além de ter peito e bunda muito aquém do admissível, ainda são feias, usam maquiagem demais e se vestem mal. Mas em compensação, são um pé no saco.

Agora moleza mesmo, tá difícil de pintar pra mim. Eu estava pensando nisso hoje, em que a gente passou o dia tirando som de bateria no estúdio. Quem ouve assim um disco não imagina o parto que é tirar um som bom de bateria. Tem que ficar andando pela sala pra descobrir os pontos mais bacanas pra colocar as ambiências. Tem que afinar, reafinar, tirar barulhinho, resolver as ressonâncias indesejáveis de todos os tambores. Tem que experimentar dois, três microfones diferentes em lugares diferentes pra ver qual que se encaixa melhor com a pegada do baterista. Em suma, pega-se em bomba na hora de tirar som de bateria

Só que vale a pena perder esse tempo todo, você perde muito mais se não fizer isso e deixar pra corrigir na mixagem. E é legal trabalhar com um produtor ou um artista que sabe o que está querendo, porque faz com que você tenha que se virar pra conseguir. Eu acho legal, mesmo quando são exigências que soam um tanto absurdas, tem sempre um fundo de verdade ali. Se o produtor-mor da música pop século vinte ouvia o John Lennon dizer que queria que a voz dele soasse como uma laranja, e ainda dava um jeito de resolver o problema, quem sou eu pra fazer bico com as exigências que me aparecem?

E olha que eu já tive que resolver cada uma que valha-me Nosso Senhor. Mas como eu ia dizendo no título, quer moleza, vá no balaio, ou sente-se no pudim mais próximo.

19.4.04

I won't loose a friend by hearing God's call

But what is a friend who wants you to fall?

16.4.04

10 coisas que eu acho lindo (ou viado é você)

1 - Eu acho lindo quando Júlia fala "Saci-Pererê".
2 - Eu acho lindo Fender Telecaster.
3 - Eu acho lindo vinil colorido.
4 - Eu acho lindo ler Watchmen pela 182ª vez e descobrir detalhes que eu nunca tinha observado antes.
5 - Eu acho lindo quando toca uma música que eu já conheço num filme.
6 - Eu acho lindo mulher de cinta-liga.
7 - Eu acho lindo foto em preto-e-branco.
8 - Eu acho lindo a cena em que o Luke Skywalker tira a máscara do Darth Vader e eles têm uma conversa de pai para filho pela única vez em cinco minutos. Ou eu achava, antes do George Lucas fuder de vez com tudo.
9 - Eu acho lindo sorvete de pistache.
10 - Eu acho lindo quando Júlia fala "Saci-Pererê".

13.4.04

Me lembrei

O assunto que eu estava querendo comentar aqui e que eu passei o final-de-semana todo esquecendo, é que saiu o disco do Superoutro, que eu produzi no final do ano passado, começo desse ano.

Pois é, aí saiu, eu já recebi as minhas cópias e ouvi em casa, tudo legal. Pra um disco todo feito em Recife com um orçamento apertadíssimo, ficou muito bom mesmo. Na quinta-feira, vai rolar uma audição no Garraffus, com direito a discotecagem da banda, a partir das sete e meia da noite. Vamos todos.

O Exorcista em 30 segundos interpretado por coelhinhos

  • É verdade
  • 12.4.04

    Gripe pra que te quero

    Mais uma vez, uma tentativa de gripe me chega numa daquelas semanas em que tem trabalho pra cacete. Puta que o pariu.

    6.4.04

    Necrófilos do mundo, uni-vos

    Essa enxurrada de Kurt Cobain me lembrou que além deste e do Ayrton Senna, comemora-se também esse ano uma década do falecimento do Tom Jobim. Ao contrário dos outros dois, Tom Jobim morreu já em idade avançada, aos 67 anos, tendo feito tudo e um pouco mais que se pode fazer nesse mundo. Coincidentemente, morreu no mesmo dia e mês que o John Lennon, só que 14 anos depois. Aparentemente, existe uma lista das dez músicas mais regravadas no planeta, e as que não são do Lennon & McCartney são do Tom Jobim. Algumas com o Vinícius, mas não garanto que sejam todas. De forma que o único que ainda usufrui diretamente deste feito é o Cavaleiro da Sua Majestade James Paul, o resto ficou pros herdeiros.

    Eu me lembro do dia que o Tom Jobim morreu, eu fiquei triste pra caralho. Só não foi igual ao dia que a Ella Fitzgerald morreu, porque nesse dia eu chorei mesmo, de verdade, botei o Ella & Louis lá e fiquei me acabando. Mas eu sempre tive uma grande admiração pelo Tom Jobim, e só não gosto muito dos discos da Banda Nova, com aquele coro que eu ainda acho um certo equívoco. Não gosto muito de Bossa Nova também, mas do pouco que eu gosto a maioria são músicas do Tom Jobim, feito Corcovado, e Dindi, que é simplesmente uma das mais lindas de todos os tempos.

    O que eu gosto mesmo é a fase pós-bossa, pré-corinho. O Urubu, o Matita-Perê, o Stone Flower, Tide, esses todos. O Terra Brasilis também, eu gostava muito de ficar olhando a capa quando era criança, e adivinhar o nome dos bichos. Esses são os discos de verdade mesmo. Da época em que ele tocava Fender Rhodes, o baixista era o Ron Carter e o arranjador era o Claus Ogerman. Disco assim, hoje ninguém faz mais não.

    4.4.04

    E assim se passaram dez anos...

    O show da vida acabou de me lembrar que na semana que começou hoje, a morte do Kurt Cobain completa dez anos. Ele era mais novo do que eu sou hoje quando se matou. Também faz dez anos que os Dreadful Boys tocaram no Abril pro Rock. Ontem eu fui ao Garagem por acaso, e descobri que o Paulo Francis Vai Pro Céu ia tocar. Eles tocaram umas seis músicas e eu fui embora logo depois. Também encontrei algumas figuras de dez anos atrás, como o Bernardo, que foi um dos duzentos caras que subiram no palco quando a gente tocou "Preciso voltar para Serra Talhada", e o famoso Zé Bé, que também estava nesse APR, mas eu não lembro se subiu também ou não. Rodrigo Habitante, que hoje mora no Reino Unido, não só subiu como baixou as calças, e a gente só se deu conta disso quando viu na MTV, que também só tinha na casa do irmão do Pio, onde fomos assistir o especial do APR. De lá, fomos para o Cantinho das Graças, de onde eu e Lhô saímos rapidamente para tomar um mojito no El Bodegón e voltar. Dois bares legais, que também já não existem.

    Esse ano também completam-se dez anos que eu entrei na universidade, que o Dreadful Boys foi pra São Paulo, e depois acabou, que Lhô começou a namorar com a mulher dele - o que aconteceu no dia seguinte ao que a banda acabou, note-se bem. Dez anos do tetra, e das histórias do Tetra que nós fomos proibidos de contar. Do assalto, do furto do meu primeiro wah-wah. O tempo passa rápido demais, e nostalgia é boia.



    3.4.04

    Manutenção

    Eu estava pensando outro dia sobre como eu me esforcei pra fugir de um emprego em um escritório, mas que eu inevitavelmente acabei me metendo num negócio que me faz passar o dia na frente do computador. Hoje em dia, é bem verdade que todo mundo passa o dia na frente do computador, a não ser que seja estudante, mecânico ou jardineiro. Que ser jardineiro é provavelmente melhor para o cérebro do cara que ser técnico de gravação, disso eu não tenho dúvida, mas acho que está meio tarde pra eu fazer um curso de jardinagem e me inserir no mercado.

    Mas eu estava pensando isso porque eu preciso fazer uma série de alongamentos várias vezes ao dia pra evitar o desenvolvimento de lesões por esforço repetitivo e também crises de tendinite. Anos e anos tocando por aí, e nada me aconteceu, mas ao adentrar o mundo das gravações e das sessões intermináveis, a mão direita começou a reclamar. Com razão, eu também prefiro o meu baixo a um mouse, por mais bonitinho e raio lazer que ele seja.

    Acho que isso tem a ver com aquela porção da sabedoria popular que diz que nossa maior virtude é também o nosso maior defeito. Feito o fato de eu ser um cara que gosto de ajudar, isso é uma virtude, mas o fato de eu não conseguir dizer não tão facilmente, não só é um defeito como me coloca em grandes maçadas. Então eu não quero me enquadrar num trabalho de escritório, e por isso tenho que encarar os horários loucos, as sessões e os discos que nunca acabam, e a incerteza quanto aos vencimentos no final do mês. Tem suas vantagens e suas desvantagens. Já a probabilidade de desenvolver a famosa LER, eu divido sem muita alegria com meus amigos de escritório pelo mundo afora.

    Uma vez eu estava conversando com o Rick Nance, e ele me falou de um cara que ele conhecia que tocava Oboé. Eis que esse cidadão desenvolveu, em algum momento da vida, lesões devidas às longas horas de prática deste que é o mais neurotizante dos instrumentos da orquestra sinfônica. Ou então ele teve um acidente com a mão, e não estava podendo tocar. O que eu me lembro, e o que realmente importa, é que o cara poderia fazer fisioterapia e lentamente recuperar o pique, mas que ele estava extremamente feliz com uma aposentadoria por invalidez. Acho que ele encontrou uma saída confortável para as incertezas da vida no meio musical. E olha que nos Estados Unidos o cara ser músico de orquestra é uma grande pedida.

    Eu não acho que eu vá ficar de saco cheio a ponto de dar um ninja desses. Mas tenho certeza de que preciso aprender a organizar a minha vida profissional pra não ficar maluco, nem endividado. Talvez isso seja melhor pra mim do que trabalhar num escritório, mas isso eu não vou saber agora. Coisa boa é que eu estou conseguindo liberar mais sábados pra ficar com a minha filha, que é o que eu vou fazer exatamente agora.

    2.4.04

    As palavras bacanas

    Tem uma história do Tony Fuscão em que ele dizia que a palavra da qual ele mais gostava na língua portuguesa era Palhaço. Porque não tinha nada melhor do que chamar o cara de palhaço. Eu acho que a que eu mais gosto é Japonês. Não que eu vá chamar ninguém de japonês ao acaso, mas eu simplesmente adoro quando eu tenho que me referir a alguém usando a expressão "Japonês". Japa não, só Japonês. E também não como adjetivo, tipo "restaurante japonês", "doce japonês" ou "pavilhão japonês". Só quando eu me refiro a um indivíduo, tipo "aí chegou um japonês e falou isso e aquilo", ou então "tem um japonês sentado numa sala e aí entra um urso polar".