22.8.03

Tem momentos em que eu me pergunto aonde estariamos se a internet nao fosse um lugar onde tramitasse tanta besteira. Serio mesmo, imagine quanto a conexao de todos nos seria mais rapida se os servidores do mundo nao tivessem que lidar, todos os dias, com as mesmas mensagens que todos ja recebemos umas duzentas vezes. Entre correntes da felicidade, pedidos de ajuda pra doentes que nao existem e transexuais com um pinto maior do que a maioria dos homens, grande parte do processamento do mundo e desperdicado como quem vai ali e ja volta. Por exemplo, tem uma imagem de um urso polar levando um tombo na neve que eu recebo duas vezes por mes. A mensagem reanimadora que acompanha muda, mas o coitado do urso e o mesmo. Se ele fosse ganhar dinheiro com o uso da imagem, ja seria um urso tropical morando numa ilha particular no Caribe.

Outra coisa que eu me espanto é a mania dos amigos online fazerem festinhas para se encontrarem ao vivo, onde eles acabam conversando sobre a internet. Entao eles falam da vida na internet, e da internet na vida. O engracado e que os nomes continuam os mesmos - "Oi psicodelico47, tudo bem? E ai, ja conseguiu instalar aquele novo programa de download?", e as pessoas nao passam a conviver mais no mundo da carne-e-osso. Elas dao dois beijinhos e so se encontram de novo dali a uns seis meses.

Eu nem posso falar tanto assim, ate porque conheci a mae da Julia pela internet. Tudo bem que por acidente, e que a nossa relacao pela rede so tenha acontecido porque eu estava viajando, mas o precedente ja esta aberto. Eu estou totalmente habilitado pra conhecer e desenvolver uma vida a dois por meio de programas de mensagem instantanea. Vai ver eu sou mais nerd do que quero crer, e o meu destino e so namorar garotas que eu conheci pela rede. Assim eu posso me apaixonar pelas habilidades que elas tenham ao escrever, e pela imagem que elas decidam passar pra mim. E com certeza mais seguro do que ter que encarar a realidade, onde eu posso inadvertidamente me envolver com alguém que goste de Zélia Duncan.

Mas estou tranquilo em relacao ao futuro. Eu li na VEJA que ja chegou no Brasil a grande novidade em termos de estupidez internauta. As flash-mobs, ou aglomeracoes relampago. Um bando de desocupados resolve se encontrar em algum local publico, fazer alguma coisa bastante interessante, como dancar a macarena, e debandar antes que alguem entre eles se de conta de que aquilo nao tem a menor graca. Obviamente, a primeira grande manifestacao do movimento flash-mob foi em Sao Paulo, onde as pessoas estao cada vez mais ligadas ao trinomio casa-carro-trabalho, e onde aventura e ir no shopping Villa-Lobos. Esta demorando a pegar em Recife ou no Rio porque tem praia, fica dificil convencer o povo de que a moda agora e curtir um flash-mob no centro da cidade. Ou mesmo no shopping, onde e mais seguro ser ultrajante.

Estou pensando em organizar flash-mobs tambem. Nas periferias, pro povo menos privilegiado tambem ter a oportunidade de partilhar dessa novidade. Sabe como e, compartilhar o bem que a internet nos faz. O primeiro vai ser em Cavaleiro. O unico problema e que pra chegar la tem que ir de metro, as pessoas se perderiam se fossem de carro. Mas a aglomeracao precisa vir diluida, entao recomendo que as pessoas peguem trens em intervalos de quinze minutos, pelo menos, pra nao dar na pinta. Quando diversos internautas branquinhos e com camisas do coldplay chegarem na Praca de Cavaleiro, e importante se misturar com os locais, senao todo mundo vai saber. Depois a gente expande pra Linha do Tiro, Mata Sete. Podia rolar um ate no lixao de Aguazinha. Essa minha ideia esta fadada ao sucesso absoluto.

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