29.9.04

The world is a ghetto

Ontem eu descobri, no meio das conversas na mesa, que existe um seriado equivalente ao "Os Assumidos" para Lésbicas. Fiquei incrível. Pensando sobre o assunto, cheguei a conclusão que os seriados são a maior prova de que a nossa sociedade, ou talvez a sociedade Anglo-Saxônica para a qual tais seriados são primeiramente produzidos, chegou a um nível de compartimentação nunca dantes experimentado. Ou seja, não dá pra fazer um seriado com homem, mulher, viado, lésbica, preto, japonês e latino tudo ao mesmo tempo, porque as pessoas - pelo menos no eixo EUA-Europa, não vivem mais assim. Preto só vê seriado de preto, não se vêem pretos no seriado dos brancos - quem conseguir citar a última vez em que um negro apareceu em Friends em menos de três minutos ganha um disco do 50 Cent - viado só vê seriado de viado, lésbica só vê seriado de lésbica e assim por diante. Terrível isso.

O mais engraçado disso tudo é que as histórias são todas as mesmas. Neguinho leva chifre, briga com o amigo por besteira, conta piada, só que nos sabores homem, mulher, viado, lésbica, preto, japonês e latino. O que também reflete a realidade, todo mundo faz cocô, trepa e paga conta, sendo que hoje em dia, dentro de seus próprios nichos. O que é muito mais chato.

Mas eu não vou ficar pra trás. Estou me preparando para o futuro. Inclusive, pensei uma série de séries que podem fazer muito sucesso quando a merda virar o boné de vez:

+ The Acousmatics - Compositores de música eletroacústica trabalhando em um departamento de música no norte do País de Gales se vêem às voltas com as dificuldades em organizar concertos de difusão sonora, organizar o tempo que cada um tem no estúdio e comer uma pizza decente. Possíveis cameos de Stockhausen - no papel de zelador, Jonty Harrison - no papel de dono de som, e Aphex Twin - no papel de um aluno que não sabe lhufas de composição, que inclusive não ia ser difícil de interpretar.

+ Get your hands off my Jag - Três jovens fãs de música alternativa, no quarto de um deles, decidem qual disco vão ouvir pela milésima vez, entre o Loveless, o You're Living All Over Me e o Automatic, e se metem em incríveis aventuras ao saírem do quarto para buscar um copo de Coca Light na cozinha. Possíveis cameos de J Mascis como zelador, Kevin Shields como vizinho e Bilinda Butcher como a mãe de um deles - até porque ela deve estar precisando de um emprego.

+ The McCartneys - Grupo de auto-ajuda para baixistas de banda cover dos Beatles sediado em Liverpool batalha por uma sede própria enquanto seus participantes buscam a felicidade espiritual e uma linha de crédito para comprar Rickenbackers. Possíveis cameos de Paul McCartney como zelador, Ringo Starr como guarda de trânsito e George Martin como gerente de banco.

+ Las Calorosas - Cinco mulheres na menopausa arrumam o que fazer agora que elas não podem mais botar menino no mundo, enquanto seus filhos descolam incríveis dívidas com seus cartões de crédito. Possíveis cameos de Julio Iglesias como zelador, Zélia Duncan como psicóloga e Alexandre Garcia como Julio Iglesias.

+ Os Barbudinhos - Contendas entre um fã-clube do Los Hermanos e um fã-clube do Renato Russo agitam a vida de um bairro da Zona Sul Carioca, e seus membros se metem em incríveis trapalhadas tentando conseguir autógrafos do Dado Villa-Lobos e do Marcelo Camelo. Possíveis cameos de Rodrigo Barba como zelador, Marcelo Bonfá como atendente de loja de sucos e Nelson Motta como gari.

27.9.04

Gram Parsons é que sabe das coisas

I've got chores to keep me busy
A clock to keep my time
A pretty girl to love me
with the same last name as mine

Coisas boas dessa vida

+ Baixo Fender
+ Edredon
+ Suco de Morango com Leite
+ Empregada que sabe cozinhar bem
+ Órgão Hammond
+ Praia
+ Sandália de dedo
+ Caixa Leslie
+ Reverb de Mola
+ Violão de 12 Cordas

Vou alimentando a ilusão de um plano astral, desfrutando os prazeres do mundo material...

Hoje eu achei o meu CD do Marcelo Birck, que eu estava procurando há algum tempo. Que disco bom da porra. Não bastasse ser muito bom mesmo, o disco ainda tem alguns dos melhores títulos desse planeta, como "O Iê-iê-iê do Oiapoque ao Chuí" e "Biquinis em Versos".

Enquanto isso, a jornada do Arkology continua. Ao infinito e além.

25.9.04

É realmente um talento arrebatador

Pra não dizerem que eu estou inventando, vou citar palavra por palavra essa pérola pinçada do Jornal do Commercio de hoje:

"Los Jubilados - que faz uma versão acústica da música de Cuba que o mundo começou a admirar após o sucesso do filme Buena Vista Social Club."

Lindo, não? Dá até pra jogar o jogo dos Sete Erros. E a parte do mundo? No mundo inteiro, as pessoas só começaram a ouvir música cubana por causa do BVSC, capisco?

Só se foi no mundo encantado da Fundaj, cara-pálida.

24.9.04

Like daughter, like dad

Júlia agora descobriu que os brinquedos do Playstation se movimentam e acendem luzes, mediante o uso de um cartão devidamente creditado. E de tanto levar a menina no Game Station, eu estou começando a usar alguns desses créditos eu mesmo...

23.9.04

Zé Carlos

Há mais ou menos um ano atrás, eu fui ao Rio masterizar um disco que eu gravei e mixei. Um grande disco, inclusive, com uma capa grandiosamente horrível, chamado Choros Pernambucanos Vol.1, do Sexteto Capibaribe, um grande conjunto de cordas dedilhadas aqui da nossa terrinha, sob a batuta do Mestre Marco César.

Numa sessão de masterização, você acaba conversando muito com o técnico. Eu e o Carlos Freitas, por exemplo, já conversamos de tudo um pouco nos tantos discos que eu fiz por lá. Mas nesse dia em particular, a conversa mais bacana que eu tive não foi com o Guilherme, que masterizou o disco, nem com o Ricardo Garcia, dono do estúdio e um fã ardoroso de Guerra nas Estrelas assim como eu.

O papo do dia foi um dos outros técnicos do estúdio comentando com a rapaziada que outro dia, durante a master do Zeca Pagodinho, o próprio aparecera no estúdio acompanhado de um amigo, o Zé Carlos, que lhe parecia extremamente familiar. O cara pensou, pensou, e nada de lembrar de onde ele conhecia o tal Zé Carlos, até que, lá pra uma semana depois do acontecido, se deu conta de que o Escadinha tinha visitado o estúdio.

Vicente fazendo escola

Eu juro que eu vou tirar uma foto do boneco cotó do Vicente André Gomes. Até lá, vocês podem conferir que o homem já está fazendo escola pelo Brasil.

22.9.04

A prefeitura trabalha

E está asfaltando a minha rua. Esse foi o melhor exemplo pra provar que, uma vez que o processo democrático no Brasil é realmente uma palhaçada, melhor seria ter eleição todo ano. Por um período de dez a vinte anos, vá lá que seja. Dessa forma, todas as ruas que precisam de recapeamento seriam devidamente atendidas, todas as comunidades carentes receberiam o apoio de que estão precisando, várias estradas sairiam do papel. É verdade que seria difícil aguentar jingles e campanhas ano após ano - eu mesmo já jurei o Vicente André Gomes de morte umas duas vezes HOJE - mas é pelo bem do povo e felicidade geral da nação.

21.9.04

Deu pau

Eu estava ouvindo hoje uma faixa intitulada "Damião Experiença no planeta folclore", e divagando, cheguei à conclusão que eu quase não estou mais conseguindo ouvir música normal. Isso é uma coisa muito séria. Outro dia eu baixei o "Complete B-sides" do Pixies. Por mais que tenham várias músicas ali que eu queria ouvir, cujas gravações em fita K7 já sumiram nessas mudanças todas, o meu sentimento era meio "E daí?". Mas aí eu baixo um negócio desses e fico totalmente empolgado. E não é só Damião não. Tem o Babau do Pandeiro. Soul Demétrio. Sabe-se lá quantos mais, por aí, me aguardando.

É bem verdade, eu sempre fui assim. Antes mesmo do antológico disco do Ercílio Leite adentrar a minha vida, há mais de dez anos atrás, eu já tinha uma queda por coisas bizarras. Sempre dava uma ouvida no rádio da empregada, sempre ficava com vontade de comprar os discos com as capas mais bizarras. Não comprava porque era liso. Quando começou a sobrar dinheiro, o vinil baixou de preço, e aí foi festa. Eu tenho um disco feito em homenagem à reconstrução da Praça da Sé em São Paulo. Outro chamado "O Mundo é Bom", em cuja capa o cantor aparece com a mulher e o filho de colo.

Mas até recentemente, era uma coisa controlável. Pra cada disco desses, eu comprava uns dois ou três de bandas legais, artistas consagrados que cantam no tempo e na tonalidade. Só que foi aumentando, e hoje em dia, fudeu. Eu quase não acho mais graça em música certinha. Quando eu acho, geralmente é música country. O resto é barulho e bizarrice.

17.9.04

Arquétipo é bóia

Esse lance de Carl Jung, arquétipos e pá, é uma festa no mundo da música. Eu estava pensando sobre isso hoje de manhã, na verdade a partir de um outro raciocínio, eu estava pensando sobre Bob Marley e aí acabei chegando nessa linha de pensamento. Por exemplo, Bob Marley, no arquétipo e na prática tb, é uma dessas figuras paternais extremas, o grande campeão e tal. Feito Luiz Gonzaga. Inclusive, foi isso que me fez chegar nesse negócio psicológico, eu estava pensando que era uma grande injustiça as pessoas que não gostam de Bob Marley dizerem que não gostam de reggae, porque este está para aquele como o forró está para Luiz Gonzaga. Não há, em ambos os gêneros, figura mais poderosa que esses dois, desde o repertório até o physique du rôle. Mas, obviamente, nem o mundo do reggae, nem o mundo do forró se limitam a Bob Marley e Luiz Gonzaga.

E o que me fez chegar no Bob Marley, foi o Peter Tosh. Que já faz mais o tipo revoltado, tipo um John Lennon, Marvin Gaye, da vida. Aquele que dá trabalho, mas vale a pena. Tem outros também, como por exemplo o fanfarrão, vide Ringo Starr, Keith Moon e Sérgio Negão. Esses modelos se repetem em diversas gerações, bandas, estilos e localidades do mundo. Num dia mais inspirado e com menos sono, eu mesmo escreveria um longo e interessante texto sobre o assunto, com diversos exemplos. Mas se alguém quiser, mande brasa também. Na verdade, essa conversa toda só rolou porque eu baixei o Legalize it, e esse disco é bom demais.

16.9.04

Mais um. Ou menos.

Johnny Ramone, o guitarrista mais influente de todos os tempos, morreu hoje aos 55 anos. Da formação original, só sobrou mesmo o Tommy pra contar a história.

15.9.04

Feliz 5765

Pois é, hoje é o ano-novo judaico, e estamos entrando em 5765. Que beleza.

14.9.04

Mais itens inúteis para a sua vida inútil

+ Tem coisas que só João Babão faz pra você. Até hoje, por causa dos seus cálculos mirabolantes para otimizar o tempo de gravação de uma fita cassete, eu acho que 'Gouge Away' é a segunda música do Doolittle.

+ A polêmica do novo hype já está dividindo opiniões. Enquanto alguns proclamam uma antiga admiração pelas mais diversas variantes da música caipira americana, outros começam a pesquisar o gênero com cautela, pra não dar muita pinta.

+ Outro hype que é capaz de pintar também é uma repentina adoração coletiva por Zamfir, o mago das flautas de Pan. Quem vai gostar vão ser os peruanos.

12.9.04

Empatou

Eu baixei a música nova do Pixies, e achei legal. Ainda não tirou a impressão de que cada geração tem o Rolling Stones que merece, mas quase empatou o placar.

9.9.04

Bilhete para passear

Mamãe, olha seu filho aqui na TV Jornal. O detalhe é que o quinteto Badminton, que era um duo quando gravou o disco Petroliana - em breve no tramavirtual - hoje é um quarteto e era um trio nesse show da foto. Um trio para lá de Bagdá, tremendamente manguaçado dentro do aquário onde esse show aconteceu.

8.9.04

Mate o véio, mate o véio

Ontem, por meio destes milagres da pirataria, eu assisti ao Kill Bill, inteiro, assim o volume um seguido do dois e tal. Eu me diverti muito, mas tenho muito medo do que eu ainda vou ouvir as pessoas comentando sobre esse filme. Com certeza, eu ainda vou ouvir alguém dizer que é uma obra-prima. Com mais certeza ainda, um monte de gente vai esquadrinhas as duzentas mil referências exploradas no filme, citando fonte com data e detalhes de produção. Isso fora as festinhas, que vão se condicionar à trilha sonora - que como sempre é muito boa - por uns dois ou três anos.

Aí agora os cabecinhas vão finalmente deixar de ouvir funk - que eles passaram a ouvir quando viram Jackie Brown e Boogie Nights, porque antes eles ouviam surf music - e passar a ouvir música country. Escrevam o que eu estou dizendo, vocês ainda vão ouvir alguma música do Johnny Cash em alguma edição vindoura do DJ's de padaria. Ou na próxima festa que seria de black music, mas que inevitavelmente vai passar a ser okie music. Engraçado vai ser o povo mudando de roupa.

Carnaval 2005, então, vai faltar napa amarela no mercado. Quem quizer sair de Beatrix Kiddo é bom comprar logo a sua.

6.9.04

Dez motivos porque Deus não deu asa a cobra

Num arroubo de fanatismo e generosidade - com o dono da banca - comprei uma edição recente da revista SPIN, com os Pixies. Ora, depois do show 'empolga mas nem tanto' de Curitiba, porque catzos eu compraria uma revista com a banda na capa? Porque a reportagem de capa é uma entrevista sem precedentes com a banda contando a própria história, que está lá, quase completa não fosse a recusa dos caras em falar tocar no assunto 'a bronca entre a Kim e o Charles foi uma foda mal-dada mesmo ou era outra coisa?'. A verdade por trás dessa relação tão complicada, assim como a verdade por trás da final da Copa do Mundo de 1998, ficou pra depois. Verdade por trás é assim mesmo.

Entre as outras coisas bacanas da revista, uma coluna me chamou a atenção por desenvolver o tema da 'banda dos sonhos', propondo algumas regras para a confecção da formação perfeita. Basicamente, é o exercício de reunir um baixista, guitarrista, vocalista e baterista e um quinto elemento opcional, naquela que teria sido a melhor banda de todos os tempos. O cara colocou algumas regras lá, como nenhum membro poder acumular funções - ou seja, o Paul McCartney ou canta, ou toca guitarra, ou toca baixo - e estabelecer que o John Bonham é hors concours. Já na minha lista de 10 bandas dos sonhos, eu vou me ater a músicos vivos. Tentando não repetir. E vamos lá com as dez mais jamais ouvidas:

1 - Joey Santiago, Billy Ficca, Mike Watt, Rob Coombes + David Bowie. O cabelo já caiu só de pensar.
2 - Jonathan Greenwood, Matt Cameron, Billy Gould + Karen O.
3 - Lee Ranaldo, Ginger Baker + Charlie Haden.
4 - J Mascis, Dave Grohl, Flea + Iggy Pop.
5 - Judah Bauer, Larry Graham, Dr. John, Tony Allen + Mike Patton.
6 - Arto Lindsay, Thom Yorke, John Zorn, Bootsy Collins + DJ Shadow. E uma ambulância, faz favor.
7 - Tom Verlaine, Jan Garbarek, Junior Areia + Stephen Perkins.
8 - Stevie Wonder, Robbie Shakespeare, Pupillo + Ali Farka Toure.
9 - Paul McCartney, Danny Goffey, Raymond McGinley + Jay Bennett.
10 - Neil Young, Nels Cline, Jeff Ament + Murph.

1.9.04

Quando eu resolver escrever mais de dois parágrafos conexos de novo, eu aviso

+ Depois de ser o nome de vila e a estação de trem maior do mundo, Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch, ponto com, é o maior domínio do mundo. Esses galeses e suas idéias mirabolantes. Mas possa crer que o lugar é massa.

+ Eu vi um show do irmão do Lenny Gordin hoje. Guitarra é bom e eu gosto.

+ E por falar em guitarrista bom, encontrei Fernando Catatau, o cidadão instigado. Alguém aí quer rachar um gravador de oito pistas em fita de meia polegada?

+ No porto de Salvador, tem navio americano.