30.5.04

All things must pass

Esses balaios de gato que acontecem quando um monte de celebridades do mundo da música se juntam em torno de uma causa tendem pro risco de tudo virar uma grande farofa. Existem exemplos memoráveis disso, como um show com os 'grandes nomes da música britânica' em homenagem à Rainha lá deles, que passou na TV faz uns quinze anos e eu faltei a missa pra assitir e gravar. Apesar de ruim, alguns momentos se salvam, como o Sir Elton tocando "I'm still standing", uma das poucas músicas dele dos anos 80 que se salvam. Eu só não me lembro o que a Tina Turner estava fazendo no meio daquele povo todo, mas enfim.

Como eu falei há não muito tempo aqui, uma exceção honrosa a essa regra é o show em homenagem aos zilhões de anos de carreira do Bob Dylan. Outra exceção, mais recente, é o show em homenagem ao George Harrison, organizado pelo Eric Clapton e pelo filho do homem (e sósia) Dhani Harrison.

O show em si aconteceu no famoso Royal Albert Hall, construído lá nos idos do século XIX pela Dona Vitória em homenagem ao finado maridão, que também ganhou uma magnífica estátua doirada defronte o salão, do outro lado da rua. Só o lugar já vale a pena, porque é uma das salas mais bacanas do mundo.

Então o show em si, enfim, é muito bom. Obviamente, tinham que chamar o Jeff Lynne, que também foi responsável pela mixagem da história toda. Descontente de ter transformado o Cloud Nine, o Traveling Wilburys e mesmo os Beatles em um creme de leite sonoro, o pateta ainda me aparece pra cantar com aquele indefectível Ray-Ban e uma porra de um chapéu australiano. Mas enfim, amigo mala é pra essas coisas. Ele e a porra do Ray Cooper.

Fora isso, pense num negócio bem feito. Deus com a categoria de sempre, Billy Preston impecável cantando "My Sweet Lord", Albert Lee, Jim Keltner, toda a família do Ravi Shankar, Tom Petty, Ringo Starr e seu paletó brilhante, et coetera. Uma participação impagável do Monty Phyton com o Tom Hanks, aquelas coisas todas.

Mas emocionante mesmo foi o final, "While My Guitar Gently Weeps", com voz e solo do Eric Clapton - numa Strato colorida horrível, mas com um som do caralho, e "All Things Must Pass" interpretada por Sir Paul, com Ringo Starr na bateria e orquestra e tudo mais. Aí eu só não chorei porque tinha mais gente na sala e ia pegar mal.

28.5.04

Dez lá e dez cá

Dez coisas em que eu sou bom:

1-Dormir
2-Comer
3-Comprar disco
4-Trocar corda de violão
5-Jogar Frostbite
6-Cantar segunda voz
7-Fazer bagunça
8-Ler gibi
9-Lembrar como chega nos lugares
10-Fazer barulho

Dez coisas em que eu sou o pior do mundo:

1-Baliza
2-Futebol
3-Comprar roupa
4-Arrumar a casa
5-Dançar
6-Ser cantor de banda
7-Lembrar aniversário
8-Juntar dinheiro
9-Acompanhar as tendências
10-Terminar lista de dez coisas.

27.5.04

Dino 7 Cordas

Eu estava fazendo uma pesquisa aqui na internética sobre sites de fabricantes de instrumentos para enriquecer a nova seção ali ao lado quando me deparei com essa
matéria em que os grandes nomes do 7 cordas falam sobre o maioral, Dino, que é o cara que manda soltar e manda prender no que tange ao Violão de 7. Leiam lá. E leiam essa também. Pra quem estiver com preguiça, existe esse Violão de 7 cordas, que possui uma corda a mais, mais grave, tradicionalmente afinada em Dó - o mesmo Dó Grave do Violoncelo - mas que também pode ser usada com a afinação em Si.

E o Dino é o Pelé do 7 cordas. Ele tocou e gravou com todo mundo, então você provavelmente já ouviu ele em algum disco por aí. Por exemplo, esses discos do Cartola da Marcus Pereira que a galera jovem e moderna curte de montão? Dino e Meira nos violões. Bezerra da Silva? Dino. Jacob do Bandolim, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Alcione, difícil é achar alguém que tenha gravado com outro violonista de 7.

Hoje em dia, violonista tocando 7 cordas é bóia. Eu mesmo já gravei um disco, o do Sexteto Capibaribe, em que tinha 3 tocando ao mesmo tempo. Mas se não tivesse existido o Dino lá, segurando a onda esse tempo todo, essa tradição já teria se perdido. Ou então seria feito a manola, ou violão tenor, que hoje em dia quase ninguém toca, ninguém mais vê a manola sendo usada por aí. Eu mesmo só vejo e ouço manola no Demônios da Garoa, no Kingston Trio e quando eu arranjo alguma coisa pra Maira gravar e peço pra ela usar. Mas talvez não exista um equivalente ao Dino no mundo da Manola.

De qualquer forma, é bom ver que hoje em dia existe muita gente empenhada em continuar esse trabalho, senão de 7 cordas só iam sobrar as guitarras do Korn e do Steve Vai. Que sinceramente...

26.5.04

Débitos e créditos

Eu não sou conhecido por aí como um grande fã do Lenine. Na verdade, pensando bem, acho que não se trata de eu não gostar do Lenine, é mais um daqueles casos em que eu reconheço que o cara é talentoso, e faz o dele muito bem feito, mas que não é muito a minha praia. É bem verdade que ele toca um violão impressionante, mas não é sobre isso que eu resolvi falar.

Na revista Continente Multicultural tem uma entrevista com o próprio, e eu estava lendo outro dia. Nessa entrevista ele chama atenção pra um ponto interessante, da gente receber as dívidas em casa e ter que correr atrás das receitas. Me lembrei disso agora porque recebi uma conta da celpe pra pagar amanhã. Chegou hoje, e vence amanhã, e eu que me vire pra pagar essa porra.

Agora, pra receber dez rural, eu tenho que gastar ligação de celular, mandar número de conta, o caralho. Os poucos pagadores excepcionais que pagam em dia, estes estão cada vez mais raros. Existem, sim, e eu sou sortudo de trabalhar volta e meia com alguns dos poucos que sobraram. Mas em geral, é um passa ontem que eu já fui institucional.

Deve existir alguma porra de órgão público que poderia organizar isso pra gente se fosse de praxe funcionário público trabalhar. Pra quem é autônomo, então, é pegar em bomba, chupar limão e pedir uma pépsi, tudo ao mesmo tempo. Até porque se você não anotar tudo direitinho, corre o risco de esquecer um trampo ou outro, e ficar à mercê da boa vontade do pagador.

E por sobre isso, você acrescenta o fator Zé Guilherme, que só não esquece a cabeça em casa porque veio presa no pescoço de fábrica. Pensando bem, é um milagre eu ainda não ter ido parar na SPC.

24.5.04

Memória Olfativa

Eu estava lendo na Superinteressante, essa com o Brad Pitt de Aquiles na capa, várias coisas interessantes sobre o olfato, e dentre elas o aspecto de que um cheiro pode lhe remeter imediatamente à outro tempo ou lugar, ou pessoa. Eu não lembro exatamente se existe uma explicação científica pra isso, provavelmente não, porque o olfato é o menos estudado dos cinco primeiros sentidos, mas que é verdade, é.

Por exemplo, a Zona Sul do Rio de Janeiro tem aquele cheiro misturado de gás e praia que você só sente lá. Toda vez que eu estou mascando um chiclete de canela eu penso em algum toque de Xangô que eu fui. E hoje eu comprei um sabonete que me fez lembrar do Hobby.

O Hobby era, ou é ainda, uma rede de academias de ginástica que eu frequentava em São Paulo. Na época a gente chamava de clube, e chamava banda de rock de conjunto. Era um lugar aonde eu ia umas duas vezes por semana, e sempre tomava banho, e tinha uns sabonetes verdes com o mesmo cheiro desse que eu comprei.

Dentre todos os talentos que eu porventura possa ter, a aptidão para os esportes definitivamente não é um deles. Então no Hobby que a gente frequentava - que ficava ali perto do Parque do Ibirapuera - eu perambulei entre diversas atividades nas quais eu era invariavelmente aquele aluno que trazia à mente do professor os questionamentos mais profundos sobre se aquilo era realmente o que ele deveria estar fazendo da vida. Tipo o que ficava de parelha com o cara que não conseguia derrubar ninguém no judô, só a mim mesmo, pra pelo menos ele derrubar alguém.

De modo que a minha hora preferida no clube era tomar banho depois da aula e comer um hamburguer com Tafman-E na cantina. Por isso que eu gostei de sentir esse cheiro de novo. Da mesma forma, rezo pra não ter que usar da minha memória olfativa pra lembrar do gordinho que ficava contando itch-ni-san-chi na minha cara. Que eu me lembre ele tinha um bafo terrível.

23.5.04

Ele voltou

OGuitar Grinder, a.k.a. blog de Felipe, está de volta, depois de longo e tenebroso inverno. Visitem já.

19.5.04

Duvi dê-ó dó

e eu sempre acho que um queer eye bem feito dá jeito em qualquer retrosexual.
qualquer um mesmo.
syl | 05.19.04 - 5:50 pm


Então pode mandar os Fab Five pra ver se tem jeito. Só não vale passar a mão na bunda.

Sobre a sexualidade individual de cada um

Outro dia eu descobri que existe um negócio que se chama o cara Metrosexual. Fala-se Métro-sexual, e não Metrô-sexual. Foi conversando com Syl, e ela estava me explicando que metrosexual é o cara que aparentemente não é veado, mas que cuida da aparência o bastante pras pessoas duvidarem disso. E se veste bem e é perfumado. Até onde eu entendi, não existem mulheres metrosexuais, só homens, até porque mulher que não se veste bem nem é perfumada, é hippie.

Aí eu vi em outro lugar que o paradigma do Metrosexual é o David Beckham, que é arrumadinho, mas como podemos conferir pelas notícias recentes, pega geral. Obviamente, não precisou chegar até o Beckham pra eu saber que é mais fácil enquadrarem o Mussum nessa categoria do que eu. Foi então que eu pensei no conceito do retrosexual. Leia-se Rétro-sexual, não Retrô-sexual. Retrô, como a gente sabe, é coisa de estilista. E estilista, como a gente sabe, é pelo menos metrosexual.

Retrosexual porque nós não somos novidade nenhuma. Somos aquela categoria de caras que não conseguiu aprender a se vestir, que faz a barba e corta as unhas por obrigação, e que bota um perfume aqui e ali, provavelmente porque vai ter mulher na jogada. Roupa a gente só compra quando a mãe ou a namorada arrastam pela mão até o shopping, escolhem e você tão somente prova, e paga. E usa até uma das duas dizerem "não acredito que você vai sair usando essa camisa velha", com ar de nojo e espanto. Como assim velha, se eu comprei faz pouco mais de um ano? Velha é aquela calça que eu herdei do meu tio, que ainda é melhor do que essas que tem pra vender hoje em dia.

É triste, você se ver assim dominado pelas figuras femininas da sua vida, mas é verdade. A gente tenta, mas é um mundo misterioso e difícil de desvendar. Não tem lógica alguma. Se fosse uma coisa lógica e simples, como a razão de uma Gibson Les Paul feita em 1963 custar cinco mil dólares quando uma nova igualzinha custa só mil, seria mais fácil da gente se virar, improvisar, sei lá.

Mas agora que temos um rótulo, podemos ficar numa boa curtindo as nossas roupas velhas e fora de moda. É só bolar um esquema legal de marketing pra essa idéia. Retrosexuais do mundo, uni-vos.

18.5.04

A vontade de ir embora e a vontade de ficar em casa

Eu e a maioria dos meus amigos estamos passando por alguma dessas crises aí que as pessoas têm. Não sei se é a crise de meia-idade, e com certeza ainda não é a andropausa. Tem uma história, que eu tava conversando com o Melvin numa das noites intermináveis em que tentamos acompanhar o ritmo etílico do Teenage Fanclub, que diz que o ano dos 27 anos é sempre um ano foda na vida do cara. Vai ver é essa crise de chegar aos trinta e ver que não é moleza mesmo não.

E eu ia divergir sobre isso mas preciso ir no banco pagar a conta do telefone.

17.5.04

The feeling is getting stronger with every embrace

-Eu devia estar muito, muito enjoado, mas aparentemente eu estou gostando mais ainda do Teenage Fanclub depois de cinco shows.

-O nome do técnico de monitor só aparece lá no fundo do encarte do disco ao vivo. Mas você pode se valer da sua posição e da pré-escuta pra tirar todos os detalhes de backing vocal que ainda suscitavam alguma dúvida.

-É difícil explicar que eu gostei do show do Pixies. Foi muito bom, mesmo. Mas que rolou um sentimento banda cover, rolou.

-Eu prometo que um dia desses eu deixo de escrever item por item.

14.5.04

Mais uma observação

Além de ter se tornado amigo de todo mundo, Guitar George também chamou atenção justamente por ser O Guitar George, de Sultans of Swing. Aquele que conheçe todos os acordes. Por sinal, esse é justamente o nome de um dos seus discos "Check out Guitar George, he knows all the chords".

13.5.04

Resumindo dá

Foram quinze dias e tanto. Por partes:

- Pixies - Provavelmente, a melhor e mais cara banda cover do mundo da atualidade. O show foi muito bom, mas muito igual. Faltou alguém botar o cu na reta.

- Teenage Fanclub - Depois de cinco shows, é pouco provável que tenha faltado ver alguma música ao vivo. Muito bom mesmo. É muito legal quando alguém que você realmente admira se mostra ao mesmo tempo extremamente competente e humilde. Uma aula grátis de como é possível sobreviver no meio musical sem abrir mão da dignidade.

- Guitar George Borovski - Aquele mesmo, da música do Dire Straits. O mais novo melhor amigo de todo mundo.

- Hell on Wheels - Uma banda muito legal de pessoas muito legais. E também a mais nova banda favorita de um monte de gente.

- Marcelo Vourakis - Definitivamente, sair com o Salsicha e trabalhar no dia seguinte são duas coisas que não combinam. Eu consegui, mas todo empenado.

- Curitiba - É frio pra cacete, e nem chegou o inverno ainda. E tem as placas mais absurdas do mundo, mas sobre isso é melhor consultar os blogs de Syl e Yellow.